sábado, agosto 30, 2003

Tudo o que é bom acaba

A «Grande Reportagem» vai acabar. Aquela que era a referência do jornalismo de investigação aqui no burgo vai ser reciclada. Reaparecerá de novo em Novembro, em formato semanal, como um banal encarte nas edições do «DN» e do «JN».

Adivinha-se que qualquer semelhança entre a nova versão e a «GR» que nós conhecemos será pura coincidência. Os tempos de Barata Feyo, Miguel Sousa Tavares e Francisco José Viegas já fazem parte da memória de quem se habituou mensalmente a ler, com imenso prazer, as reportagens e os comentários mais pertinentes que já se escreveram neste país.

Quando o todo vetusto «Expresso» resolveu transformar a sua também saudosa «Revista» numa salada de frutas sem qualquer sabor (hoje a «Única» mais parece uma imitação da «Holla» do que uma revista de grande informação), a «GR» continuava a ser o refúgio de todos os que gostam de consumir boa informação e de serem confrontados com perspectivas alternativas à «verdade» dos media oficiosos do sistema.

Os senhores tecnocratas da PT / Lusomundo, que não souberam manter aquilo que já foi um sucesso editorial, devem estar mais descansados. A «GR» no «Diário de Notícias» estará sempre mais domada e controlada. Não esqueçamos que o «DN» é o orgão oficioso do regime do momento. Qualquer que este seja. Desde a República ao Estado Novo, passando pelo PREC e Cavaquismo, o «DN» soube sempre interpretar o sinal dos tempos: amplificar a voz do seu dono!

Parabéns a todos os que fizeram da «GR» um grande exemplo!

quarta-feira, agosto 27, 2003

A rentrée

As férias estão a acabar...

As rentrées políticas estão de volta. Sem alma, sem chama e rançosas como sempre.

O Verão foi tristemente escaldante e o Inverno antecipa-se frio e deprimente. Vamos assistir ao degradante espectáculo da vida política nacional, a pedofília vai continuar a deprimir-nos e a economia continuará adiada, a enésima edição do Big Brother está de volta e o povo vai-se entretendo com o Professor Martelo, com os Pintos da Costa e Valentins Loureiros e com as desgraças anunciadas do Benfica.

O sucesso efémero do Europeu de Futebol e o orgulho nacional de termos mais 10 estádios (que vão ficar vazios) irão anestesiar o pessoal e encher os jornais.

Como diz o cantor, cá se vai andando com a cabeça entre as orelhas.

segunda-feira, agosto 25, 2003

Lições do Iraque

Já se tornou uma rotina o facto de todos os dias haver baixas americanas no Iraque. O todo poderoso exército americano, libertador dos povos oprimidos, vai sendo dizimado metodicamente e mediaticamente. Os números não são propriamente escandalosos, mas o facto é que o impacto que os meios de comunicação dão a esta forma corrosiva de diminuir a moral do Tio Sam, começa a ter efeitos na decisiva opinião pública e a causar receios fundados na Casa Branca.

Não é por acaso que, de um momento para o outro, se deixou de ouvir falar em estados párias, em eixos do mal e outras alucinações do género a que a euforia da vitória aparentemente fácil conduziu. Por enquanto, o Irão e a Coreia do Norte podem estar descansados.

Todos os dias morrem americanos no Iraque onde o caos está instalado. No Afeganistão, apesar das melhorias verificadas face à anterior insanidade dos Taliban, a coisa não está muito segura. No eterno conflito entre Israel e Palestina são os extremistas de ambos os lados quem mais ordena. É esta a realidade da brilhante política externa norte americana.

Em tempos muito remotos, o rei Midas tinha o dom de transformar em ouro tudo aquilo em que tocava. Hoje, o ignorante Bush transforma em cinza e destruição tudo aquilo em que se mete...

P.S. Esta coisa de se considerar o Irão um Estado Pária tem muito que se lhe diga. Um dia voltaremos a este assunto.

quarta-feira, agosto 20, 2003

Mataram um homem justo...

Há imagens que geram em nós convicções muito fortes sem, muitas vezes, percebermos porquê. Há figuras distantes do nosso pequeno quotidiano que pela sua pose, pelo seu discurso, pelas suas atitudes geram empatias imediatas. Era isto que acontecia com Sérgio Vieira de Mello...

Desde a primeira vez que o vi na televisão, a chegar a Timor, que este homem me transmitiu uma imagem de seriedade, de empenhamento, de espírito de missão. Era o homem certo, no momento certo, nos lugares mais complicados do mundo. Sérgio Vieira de Mello personificava o espírito universalista da ONU. Era simples, seguro, discreto, frontal, culto, cosmopolita e fazia tudo com muita classe e, como bom brasileiro, sempre com um sorriso aberto e franco.

E morreu... Morreu como morrem os bravos. A lutar por um mundo melhor e mais seguro para todos.

Morreu porque acabou por ser mais uma vítima dessa política cowboy do presidente mais estúpido da história universal!

Porque é que são sempre os bons a morrer???

Porque é que o camião cheio de bombas conduzido por um doido não escolheu como alvo o gabinete oval da Casa Branca, em vez do Hotel Canal?

quarta-feira, agosto 13, 2003

Este fogo que nos consome (2)

Afinal, Lisboa já descobriu que o país está a viver uma catástrofe, embora exista uma inteligência arguta no nosso parlamento que considere que o “número de vítimas foi relativamente restrito”...

Mas, afinal, o assunto é sério. As televisões apareceram e, de imediato, o presidente apareceu, o primeiro ministro apareceu, o ministro apareceu (talvez se tivesse ficado em casa a coisa teria corrido melhor), a oposição apareceu e todas as carpideiras e aves de rapina do costume se puseram em bicos de pés: ambientalistas bronzeados, jornalistas bronzeados, comentadores bronzeados, ex-ministros bronzeados, técnicos de ecologia do fogo bronzeados, técnicos da psicologia do fogo bronzeados, técnicos da antropologia do fogo bronzeados...

Sei lá? Com tanto técnico bronzeado a opinar na televisão com tanto brilhantismo, o ministro Portas ainda se vai lembrar de lhes atribuir uma medalhita... Estes moços, no Inverno, devem estar todos no desemprego... Não se ouve falar neles, coitados.

Por outro lado, temos que concordar que passámos por momentos de glória, pois isto até parecia a Guerra Cívil Espanhola, tantas foram as brigadas internacionais a responder ao apelo lancinante do ministro: Chilenos (com duas tristes baixas), Marroquinos (uma grande lição para nós que agora pensamos que somos europeus de primeira), italianos (o tio Berlusconi foi o primeiro a enviar e o primeiro a retirar...), alemães (sólidos e eficazes) e os nossos hermanos que nos salvam sempre nas aflições (descontando o episódio negro do Prestige). Há que grande nação nós voltámos a ser! As notícias na CNN, a ajuda em dólares do Bush, as orações do Papa, a deslocação dos comissários europeus... Finalmente, depois do 25 de Abril tivémos uns minutinhos de fama.

E o Dr. Guilherme achou que era pouco... Ah, homem marafado! Quer tudo em grande! O líder da bancada da situação gosta mesmo de sangue a correr pelos ecrãs das tv’s. Não lhe chegam umas gotas tragicamente queimadas nos pobres pinhais e eucaliptais deste país...

Que pena o fogo não ter chegado a S. Bento...

domingo, agosto 10, 2003

O telemóvel (2)

O facto está consumado. Foi agora tornado público que o líder da oposição abandonou o seu telemóvel de sempre quando ia a caminho do Algarve. A explicação oficial aponta para que o célebre aparelho se tenha perdido numa qualquer estação de serviço. É a confirmação de rumores recentes que apontavam para uma degradação das relações entre os dois. Entretanto, também já se sabe que já há um novo substituto muito mais sofisticado que o anterior.

Se o Portas aparece com a Cinha, se a Marisa Cruz tem um namorado novo, também o nosso Ferro apareceu com uma nova paixão... São os amores de Verão, Senhor!