O dia seguinte...

Depois de tudo o que se viveu. Depois de tudo o que se disse. Depois de tudo o que se prometeu. Depois de tanta lágrima e tanto choro. Depois de tanto arrependimento Depois de tudo... voltámos ao mesmo. É a nossa natureza!

Tudo isto é triste, tudo isto é fado!

P.S. Alguém ainda duvida que não há mortes úteis???

O sorriso...

"Porque no final todos caímos, de uma forma mais ou menos aparatosa, e não necessariamente com um sorriso."

Rui Tato Lima no Público de 28 de Janeiro de 2004

A Peste

"(...) E sabia também que viria talvez o dia em que , para desgraça e ensinamento dos homens, a peste acordaria os seus ratos e os mandaria morrer numa cidade feliz."

Albert Camus em A Peste

P.s: O imparável e prolífico Pacheco Pereira lançou um blog (mais um..) dedicado a Camus.

As cunhas, os jeitinhos e os "favores"

As notícias de hoje, que referem a existência de irregularidades nos Centros de Inspecção de Veículos, levam-nos, uma vez mais, ao tema recorrente da corrupção endémica que domina este país.

São os inspectores de veículos que fecham os olhos às deficiências mecânicas das carripanas que ainda vão circulando por aí, são os fiscais das câmaras que olham para o lado enquanto mais uma marquise é colocada numa qualquer varanda das nossas cidades, são os nossos amigos da GNR que se esquecem dos talões de multa em casa e deixam passar os camiões dos empreiteiros a abarrotar de carga, é o ministro que dá um jeitinho para que a filha do seu colega de governo entre na universidade, é a câmara que aldraba a CEE para que o clube da cidade e do Dr. Pimenta tenham um estádio novo... É o Portugal profundo no seu melhor.

Todos conhecemos alguém que conhece alguém que pode dar uma "ajudinha", na condição simples que haja uma pequena "atenção" a recompensar tanto esforço. Afinal, ao contrário do que dizem as más línguas, somos um povo solidário!

A tradição ainda é o que era...

Acabei de ver na renascida 2 (uma alegre surpresa) o final dos famosos concertos Promenade, organizados pela imaculada BBC. Uma delicia!

É o melhor da tradição britânica misturada com muita nostalgia e fascínio pela memória do império perdido. Mas é, sobretudo, uma lição com mais de 100 anos sobre a desacralização e democratização da chamada música erudita ou clássica.

E o presidente escreveu uma carta... mas mandou outro lê-la!

Este pessoal da política gosta mesmo de escrever... Ontem foi o candidato a candidato ao mais alto cargo da nação valente que apresentou o seu livro. Hoje, foi o actual inquilino de Belém que redigiu uma missiva para o parlamento sobre a situação das finanças públicas. O presidente da Assembleia leu a mensagem e, pelas imagens televisivas, os deputados aproveitaram para pôr o sono em dia.

Apesar de ninguém ter percebido o seu conteúdo - a pronúncia açoriana também não ajuda muito - assistiu-se ao costumeiro unanimismo. Todos, sem excepção, concordaram com aquilo que o homem escreveu e o outro disse.

É o triste fado do Dr. Sampaio. Ninguém contraria aquilo que diz. Mas, afinal, também ninguém lhe liga muito... Faça o que fizer, diga o que disser, escreva o que escrever, o pessoal está sempre de acordo!

É inofensivo e totalmente inerte! Até faz lembrar os presidentes fantoche do Estado Novo.

O Homem escreveu um livro... será que o leu?

Os jornalistas e os políticos da situação estiveram hoje num virote para assistir ao lançamento do livro mais esperado depois do "J'Accuse" de Emile Zola.

O melómano mais famoso da 24 de Julho lançou para a posteridade uma obra de peso. "Causas de Cultura" é, segundo o seu autor, "um exercício de memórias".

Aguarda-se com grande expectativa a leitura dos capítulos dedicados a Cinha Jardim...

Terceiro Mundo

A edição deste sábado do Expresso apresenta, na página 14 do caderno principal, um anúncio de uma cidadã deste país a agradecer e elogiar os cuidados de saúde que lhe foram prestados numa unidade hospitalar da Grande Lisboa... Uma autêntica pérola!

Este caso demonstra perfeitamente o grau de confiança que os portugueses depositam no seu sistema de saúde. Zero! A dada altura o referido anúncio, intitulado "agradecimento justo ao Hospital XXX", diz o seguinte: "Hoje, quero elogiar o Hospital XXX pela rapidez, eficiência com que me socorreram (...). A Humanidade, a qualidade do serviço, o calor humano e o profissionalismo com que fui atendida e tratada são razões fortes e justas para este meu agradecimento". Exemplar!

A surpresa da senhora pelo atendimento rápido, eficiente, humano e profissional foi tal que se sentiu na obrigação de publicar um anúncio no caderno principal do mais prestigiado jornal português... Afinal, não deveria ser este o comportamento normal e rotineiro que qualquer cidadão esperaria dos seus hospitais e dos profissionais que lá trabalham???

Serão estes anúncios os substitutos modernos das tradicionais ofertas de galinhas, coelhos e frutas que serviam para as populações agradecerem os préstimos do médico da aldeia? Será que alguém imagina o Le Monde, o The Times ou o Die Welt a publicar semelhante coisa?

Outro exemplo, que reflecte bem o caos do sistema, foi vivido recentemente por um familiar meu que teve de se dirigir à ínenarrável urgência do maior hospital português. Depois de mais de 8 horas de espera e quando o diagnóstico realizado pelos médicos de serviço indicava o internamento como opção mais acertada, um dos clínicos aconselhou este meu familiar a não ficar internado porque: "iria para uma enfermaria com quarenta doentes e apenas com uma enfermeira e sem médico a assistir. Logo, não teria nem assistência de enfermagem, nem assistência médica... Em casa sempre teria os familiares por perto para qualquer necessidade urgente..."

Lapidar...

P.S. Aos mais incrédulos e ao Sr. Ministro aconselha-se uma visita de estudo às urgências hospitalares

O "cluster" português

Numa época em que se fala tanto em especialização e em "clusters", eis que temos mais um motivo de orgulho nacional, digno de ser referido pelo Professor Martelo na sua intervenção semanal na TVI. Segundo o Expresso, o surpreendente advogado de Bibi terá sido convidado para incluir a "poole" (outro anglicismo) de advogados de defesa de Saddam Hussein.

Deste modo, podemos afirmar com segurança e altivez que temos uma Justiça com projecção e renome internacionais. Já não é só Bragança que está no mapa!

Agora, aguarda-se com ansiedade que o novo governo do Iraque convide a Procuradoria Geral da República e o Juíz Rui Teixeira para investigar e produzir o despacho de acusação ao ditador iraquiano. A nossa esperança vai mesmo ao ponto de sugerir a emigração de todas as partes envolvidas no processo Casa Pia para o Golfo Pérsico .

Se o Iraque já tem um governo fantoche, ficaria assim servido com uma Justiça do mesmo nível...