domingo, janeiro 11, 2004

Terceiro Mundo

A edição deste sábado do Expresso apresenta, na página 14 do caderno principal, um anúncio de uma cidadã deste país a agradecer e elogiar os cuidados de saúde que lhe foram prestados numa unidade hospitalar da Grande Lisboa... Uma autêntica pérola!

Este caso demonstra perfeitamente o grau de confiança que os portugueses depositam no seu sistema de saúde. Zero! A dada altura o referido anúncio, intitulado "agradecimento justo ao Hospital XXX", diz o seguinte: "Hoje, quero elogiar o Hospital XXX pela rapidez, eficiência com que me socorreram (...). A Humanidade, a qualidade do serviço, o calor humano e o profissionalismo com que fui atendida e tratada são razões fortes e justas para este meu agradecimento". Exemplar!

A surpresa da senhora pelo atendimento rápido, eficiente, humano e profissional foi tal que se sentiu na obrigação de publicar um anúncio no caderno principal do mais prestigiado jornal português... Afinal, não deveria ser este o comportamento normal e rotineiro que qualquer cidadão esperaria dos seus hospitais e dos profissionais que lá trabalham???

Serão estes anúncios os substitutos modernos das tradicionais ofertas de galinhas, coelhos e frutas que serviam para as populações agradecerem os préstimos do médico da aldeia? Será que alguém imagina o Le Monde, o The Times ou o Die Welt a publicar semelhante coisa?

Outro exemplo, que reflecte bem o caos do sistema, foi vivido recentemente por um familiar meu que teve de se dirigir à ínenarrável urgência do maior hospital português. Depois de mais de 8 horas de espera e quando o diagnóstico realizado pelos médicos de serviço indicava o internamento como opção mais acertada, um dos clínicos aconselhou este meu familiar a não ficar internado porque: "iria para uma enfermaria com quarenta doentes e apenas com uma enfermeira e sem médico a assistir. Logo, não teria nem assistência de enfermagem, nem assistência médica... Em casa sempre teria os familiares por perto para qualquer necessidade urgente..."

Lapidar...

P.S. Aos mais incrédulos e ao Sr. Ministro aconselha-se uma visita de estudo às urgências hospitalares

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