quarta-feira, agosto 13, 2003

Este fogo que nos consome (2)

Afinal, Lisboa já descobriu que o país está a viver uma catástrofe, embora exista uma inteligência arguta no nosso parlamento que considere que o “número de vítimas foi relativamente restrito”...

Mas, afinal, o assunto é sério. As televisões apareceram e, de imediato, o presidente apareceu, o primeiro ministro apareceu, o ministro apareceu (talvez se tivesse ficado em casa a coisa teria corrido melhor), a oposição apareceu e todas as carpideiras e aves de rapina do costume se puseram em bicos de pés: ambientalistas bronzeados, jornalistas bronzeados, comentadores bronzeados, ex-ministros bronzeados, técnicos de ecologia do fogo bronzeados, técnicos da psicologia do fogo bronzeados, técnicos da antropologia do fogo bronzeados...

Sei lá? Com tanto técnico bronzeado a opinar na televisão com tanto brilhantismo, o ministro Portas ainda se vai lembrar de lhes atribuir uma medalhita... Estes moços, no Inverno, devem estar todos no desemprego... Não se ouve falar neles, coitados.

Por outro lado, temos que concordar que passámos por momentos de glória, pois isto até parecia a Guerra Cívil Espanhola, tantas foram as brigadas internacionais a responder ao apelo lancinante do ministro: Chilenos (com duas tristes baixas), Marroquinos (uma grande lição para nós que agora pensamos que somos europeus de primeira), italianos (o tio Berlusconi foi o primeiro a enviar e o primeiro a retirar...), alemães (sólidos e eficazes) e os nossos hermanos que nos salvam sempre nas aflições (descontando o episódio negro do Prestige). Há que grande nação nós voltámos a ser! As notícias na CNN, a ajuda em dólares do Bush, as orações do Papa, a deslocação dos comissários europeus... Finalmente, depois do 25 de Abril tivémos uns minutinhos de fama.

E o Dr. Guilherme achou que era pouco... Ah, homem marafado! Quer tudo em grande! O líder da bancada da situação gosta mesmo de sangue a correr pelos ecrãs das tv’s. Não lhe chegam umas gotas tragicamente queimadas nos pobres pinhais e eucaliptais deste país...

Que pena o fogo não ter chegado a S. Bento...

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