terça-feira, setembro 23, 2003

Este país morreu!

É desta forma fatalista que termina o fabuloso "Estação das Chuvas" do angolano José Eduardo Agualusa.

É a biografia romanceada da poetisa e historiadora Lídia do Carmo Ferreira que nos dá a conhecer um pouco da tragédia e da história recente de Angola. Desde a opressão dos derradeiros tempos do colonialismo aos desvarios da independência, passando pela insanidade da Guerra Cívil.

Vem isto a propósito do Editorial do Público de hoje, assinado por Nuno Pacheco, onde, com louvável desassombro, é relatada a surpreendente nomeação do traficante de armas Pierre Falcone como ministro plenipotenciário de Angola junto da UNESCO.

Esta estranha nomeação tem lugar numa altura em que, segundo o Público, o novo homem de Angola na UNESCO tem os seus movimentos limitados em França e "a justiça helvética (...) acusa o cidadão Falcone "de 'branqueamento' de dinheiro em dois inquéritos separados, um sobre as comissões, ou luvas, pagas no âmbito das vendas de armas a Luanda durante a guerra civil, e o outro sobre a utilização do dinheiro da transacção da dívida de Angola à Rússia, que teria sido desviado a proveito de 'dignitários políticos'."

É Angola no seu melhor. O país onde a lógica irracional dominante consegue normalizar o absurdo.

P.S. Outro livro que retrata muito da realidade angolana é a "Baía dos Tigres" de Pedro Rosa Mendes. Imperdível!

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