segunda-feira, junho 15, 2009

O Irão e as suas contradições

Aqui há uns anos estive no Irão durante 3 semanas.
Corri o país de lés a lés. Do Cáspio ao Golfo Pérsico encontrei um país surpreendente na Cultura, na História, na Arquitectura e na espantosa cordialidade do seu povo. Foram umas férias inesquecíveis!
Estávamos então em pleno consulado do moderado Kathami (hoje apoiante do contestatário Mousavi) e nas ruas sentia-se uma liberdade controlada que permitia criticas mais ou menos tímidas ao regime dos ayatollahs. A tensão entre os duros do regime e as facções mais moderadas era evidente e, aos olhos de um estrangeiro, o ambiente político e social era estremamente cativante.
Com a devida distância, vivia-se uma espécie de primavera marcelista. Kathami, que tinha sido eleito por uma esmagadora e surpreendente maioria assente no eleitorado jovem, urbano e feminino com promessas de reformas políticas e cívicas num regime extremamente inflexível e dominado pela figura omnipresente de Khomeni, acabou por falhar deixando um lastro de frustração nas hostes mais liberais. No fundo era um homem do sistema e que o sistema tudo fez por anular.
Num estado teocrático como o Irão, o poder político continua a ser uma emanação de Deus e o Supremo Líder, o ayatollah Ali Khamenei, e o Conselho dos Guardiões são os seus detentores derradeiros.
Hoje, o Irão volta a viver esta eterna tensão entre uma sociedade laica e moderna que o Xá tentou impôr violentamente e uma sociedade e um aparelho de Estado alavancados na tradição mais conservadora dos Shiitas que, sem os inimigos externos e ameaças reais de outrora (o Iraque de Saddam ou os Estados Unidos de Reagan e Bush), se sente em perigo. Resta Israel como eterno inimigo para excitar o povo.
É por isso que o Ocidente não pode cair no erro maniqueísta e simplista de voltar a etiquetar o Irão como um dos membros do Eixo do Mal. Apesar do cerco e das limitações impostas pelo poder religioso dominante, a sociedade iraniana apresenta um dinamismo e uma criatividade fabulosos (veja-se como a Internet e o You Tube têm sido utilizados nesta crise) nos quais as mulheres e os jovens desempenham um papel central contrariamente ao que sucede em alguns países vizinhos, tão amigos e tão protegidos pelo Ocidente...

Sem comentários: