sexta-feira, abril 17, 2009

A arte da guerrilha




O mais recente contra-ataque protagonizado por Pedro Nunes, Bastonário da Ordem dos Médicos, nesta autêntica guerrilha em que se transformou a já tradicionalmente difícil relação entre os médicos e a ANF é digna das tácticas terroristas que João Cordeiro tanto gosta de usar na sua ambição desmedida de amplificar o já tentacular poder da sua associação. É, por isso, uma resposta à altura.
No entanto, admitamos que essa é, simultaneamente, a sua principal fraqueza. Ao ser uma mera arma de arremesso, utilizada no meio da refrega, ninguém lhe vai dar qualquer atenção mais cuidada, nem atribuir qualquer mérito. Todavia, esta proposta se fosse apresentada com outra sustentação técnica e num ambiente menos poluído teria, concerteza, outra eficácia e outra margem de progressão. Porque não deixa de ser uma boa ideia, pois:
  • Ao propor a realização de um Concurso Público a nível nacional para um conjunto alargado de princípios activos com elevados níveis de prescrição, iria conseguir activar a concorrência e gerar poupanças significativas para o Estado e para os doentes devido à inevitável descida do PVP;
  • Ao propor que a distribuição destes fármacos aos doentes fosse directamente realizada nos Centros de Saúde ou nos Hospitais (via Farmácia Hospitalar), estaria a eliminar o intermediário que é a Farmácia de Oficina e logo a poupar na margem de lucro legal (18,25% em medicamentos comparticipados). Uma vez mais, quem ganhava era o Estado e o doente.
  • Finalmente, com a definição de uma listagem de medicamentos de prescrição obrigatória por princípio activo, eliminar-se-ía qualquer suspeita de pressão ilícita sobre os médicos e farmacêuticos por parte dos laboratórios. O poder que, hoje, qualquer uma destas classes tem na prescrição e na dispensa dos medicamentos diminuiria consideravelmente a bem do seu prestígio e consideração sociais.

Eis mais um exemplo de como uma boa ideia pode ser perfeitamente trucidada pelo ambiente sujo de guerrilha que se vive na área da Saúde em Portugal.

2 comentários:

manuel gouveia disse...

Parece-me que o sr. Cordeiro tem por aí um laboratório que não usa delegados de propaganda médica! Estava mesmo a pedi-las! O menino queria as gomas todas para ele... menino mau!

Anónimo disse...

Ao contrário do que se possa pensar, este sistema já funciona há muitos anos numa área restrita: no planeamento familiar. Já há muitos anos que os Centros de Saúde distribuem gratuitamente pílulas, preservativos, DIU e implantes. Para o Estado sai mais barato que comparticipar esses produtos nas farmácias uma vez que os obtém via concursos em grandes quantidades e com preços mais baixos, e para os utentes é excelente obter a medicação de graça. Como é lógico, e ao contrário do que alguns palermas dizem, nenhum médico ou enfermeiro se cobra por dar esses medicamentos...
Portanto, como médico que sou com experiência de 30 anos, acho que seria excelente e perfeitamente exequível alargar essa prática a outros medicamentos, pelo menos os grandes grupos terapêuticos: anti-hipertensores, anti-inflamatórios, antibióticos e anti-lipídicos.
O Estado só teria a ganhar e os utentes tanbém. Só perdiam as farmácias....